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Nem mesmo as melhores bailarinas conseguem manter-se, por muito tempo, sobre a ponta dos pés. Eis porque elas sobem, por bem pouco tempo, para logo descerem, pés completos no chão, deslizando sobre o palco. Por um instante, porém, ao se erguerem sur les pointes (na ponta dos pés), elas parecem alçar voo. A leveza do ser… Insustentável. Como insustentável e pouco e curto e apenas momentâneo é, para nós mortais, a experiência do belo, da plenitude, do infinito, do céu, do sonho. O mais é: os pés do chão, o usual, a terra, o finito, o cotidiano. Assim também transcorre a nossa vida: intermináveis buscas e tão poucos encontros, um longo peregrinar para um fugidio momento de contemplação, um pequeno oásis depois de milhares de dunas de areia, uns poucos instantes de plenitude no meio de todos os vazios.
Não diferente disso é também a experiência humana de Deus: poucos momentos e em raríssimos lugares. O mais é apenas um vaguear à cata dos seus vestígios, nas cercaduras e cercanias de nossa morada, o mundo. Ainda que queiramos e, com sinceridade, o busquemos, ele permanece, enquanto aqui estamos, para sempre, um velado e oculto, que nos será dado apenas nas entrelinhas.
A nós, não nos restam outras vias para Deus senão estas: os céus sobre todos nós, a terra sob nossos pés, a noite depois do dia, a solidão dos pobres, os pastores, os campos, as estrelas, a abandono dos últimos, o homem, a mulher, a criança, o estábulo e seus animais, a manjedoura, as fraldas e os suaves raios de luz que clareiam as nossas noites (Lc 2, 1-20). Estes são o lugar da espera e do advento de Deus.
Frei Prudente Nery – OFMCap.